Disclaimer
Antes de qualquer coisa deixem eu começar com uma confissão: eu me viciei em newsletters. Comecei tímido, com uma de autor estrangeiro. Logo adiante alguém que eu conhecia e admirava lançou uma e segui também. Quando vi já estava apoiando financeiramente uma terceira e daí afundei sem volta no vício. Já nem sei quantas eu sigo no momento exatamente.
Ah, aquele frisson quando chega o e-mail, muitas vezes nos horários mais inesperados…
Uma breve introdução
Meu nome é Valmor e sou natural de Porto Alegre, no sul do Brasil. Desde criança eu planejava ser quadrinista (logo depois de querer ser goleiro) mas aos 17 anos após um atropelamento eu desenvolvi essa obsessão por aprender a tocar bateria que rapidamente mudou minha missão de vida. Eu nunca saberei se isso foi ou não coincidência mas gosto de usar isso como origin story.
Eu trabalho como produtor fonográfico usando o pseudônimo Fu_k The Zeitgeist (para diversos artistas mas também em uma carreira solo) e paralelamente sou sócio de uma produtora de áudio chamada 4’33” (criando som para publicidade).
Uma das minhas principais assinaturas como produtor é mescla de equipamentos e técnicas obsoletas (como K7 e VHS) com recursos digitais modernos.
Mas será que…?
Tem uma frase que pesquei em um livro do Robert Heinlein muitos anos atrás e que sempre me acompanhou: “Specialization is for insects”. Eu gosto muito de me meter a brincar em todas essas áreas criativas que circundam minha missão primária (música): desenho, fotografia, colagem, vídeo. Eu navego todas com esse entusiasmo juvenil de quem não sabe muito bem o que está fazendo mas entende que isso é uma parte um tanto mágica do processo.
Por sorte (e privilégio), vivo cercado de especialistas onde posso buscar ajuda quando as limitações de curiosidade pura se apresentam. E assim, além de compôr, gravar e finalizar músicas eu também consigo fazer capas, clipes e outros materiais pra acompanhar minhas criações.
Mas escrever? Será que eu dou conta? E acima de tudo escrever com regularidade, com uma rotina. Sem ter nada perto da habilidade literária da Aline, da sensibilidade cronista da Renata ou do microscópio sonoro da Victória.
Então hoje numa caminhada (incrível quantas vezes acontece isso) o formato praticamente se atirou na minha frente (figurativamente, ok?). Estava lá com o autor da primeira newsletter que eu segui: Austin Kleon.
Toda sexta chega um e-mail dele com 10 coisas interessantes que coletou na semana anterior. E esse formato parece ótimo pra mim. Eu estou constantemente coletando (e repassando) referências, consumindo novidades e descobrindo tesouros perdidos. Porque não compilar os melhores achados com o ocasional comentário e reflexão? Tenho certeza que o autor de “Roube Como Um Artista” não vai se magoar com essa imitação.
E esse nome?
Quase que simultaneamente ao encontro do conceito uma memória aleatória perdida me entregou o título “Ponto de Fuga”. Uns bons anos atrás foi o nome que sugeri para um grupo de estudos de música experimental que nunca saiu do papel. Coloquei numa gavetinha pois sabia que ia poder reaproveitar. Isso acontece bastante comigo, são muitas gavetas cheias.
Gosto da quantidade de leituras diferentes que dá pra fazer dele. A maneira como se conecta com a minha maneira de criar. O ponto onde duas linhas convergem no horizonte. É um ponto de chegada ao mesmo tempo que um ponto de partida. É um termo clássico de desenho mas “fuga” é também uma nomenclatura musical.
Me chama atenção também que na língua inglesa o termo é “Vanishing Point”, o ponto do desaparecimento. Onde as linhas diferentes se fundem e somem (pra criar algo novo?).
O que esperar
Em essência vai ser um acompanhamento em tempo real de (quase) tudo que eu estiver lendo, assistindo, ouvindo e especialmente descobrindo. Junto de como isso está influenciando meu processo criativo. Como inspirações aparentemente incompatíveis conseguirão co-habitar uma mesma produção. Uma opinião específica aqui, uma curiosidade interessante lá.
A ideia é visitar suas caixas de entrada pelo menos uma vez por semana.
E que tal algo pra começarmos?
Gainsbourg
No momento, estou imerso no livro “Relax Baby Be Cool: The Artistry and Audacity of Serge Gainsbourg” por Jeremy Allen. Admito que tinha um conhecimento muito superficial da obra do francês e só havia escutado com mais atenção o lindíssimo album “Histoire De Melody Nelson” (cuja capa é ornada pela recém falecida Jane Birkin).
Essa biografia tem sido a oportunidade de conhecer melhor um artista que eu não imaginava ser tão camaleônico. Ao ler esse tipo de livro eu gosto de paralelamente ir escutando os discos que vão sendo descritos cronologicamente. Eu ainda não cheguei na década de setenta (Melody Nelson é de 71) mas um trecho comparando Gainsbourg com Bowie me levou a conhecer uma composição dele dos anos 80 que foi gravada pela atriz Isabelle Adjani em seu album Pull Marine. O título da música se traduz livremente como “Bonito? Sim, como Bowie.”
É provável que outros highlights sigam aparecendo por aqui conforme eu avançar nessa leitura.
James Blake
Saltando agora pra algo bem recente, estou completamente fascinado pelo virtuosismo visual deste clipe do James Blake. Um encontro de filme europeu com videogame. Um Sound of Noise meets Hardcore Henry. O arranjo bem mínimo e direto da música também me pegou de jeito. Já garantiu o interesse em uma audição do album “Playing Robots Into Heaven” quando sair.
Outros lançamentos musicais interessantes (em vídeo):
Explosions in the Sky - Ten Billion People
Parabuains
Ontem o diretor do meu filme favorito de todos os tempos, Wong Kar-wai, completou 65 voltas ao redor do sol. Aqui vai esse curtinha que descobri essa semana, onde ele editou imagens de arquivo do cinema chinês em cima da música que dá nome à obra.
Prata da casa
Vou tentar manter o hábito também de deixar uma produção minha aqui no fim da newsletter. A escolhida de hoje é um som que coloquei no ar faz poucas horas: Apocalypse Neu. Era uma faixa que estava encalhada no HD e resolvi finalizar de uma vez. Pro vídeo captei a imagem da TV Sony Trinitron usando a Canon GX7II. Escolhei um filme em VHS aleatoriamente e passei pelo Rusty Joe do Mezkalin. Depois editei no computador sem muita pós.
Até a próxima!